Paróquia Nossa Senhora de Fátima - Lisboa

domingo, 28 de dezembro de 2008

A diferença (im)possível

Tanta gente que queria ser diferente…

Tanta gente que gostava de sentir o que não sente e de não sentir o que sente…
Tanta gente que gostava de não ser tão desconfiada, de acreditar mais nos outros e ser capaz de se expor, de se entregar e criar laços…
Tanta gente que gostava de ser mais útil, de servir mais e melhor, de ajudar mais os que mais precisam, de fazer os outros um pouco mais felizes...
Tanta gente que gostava de não desistir, de ter mais força para se levantar, e reagir, e lutar contra a maré…

Tanta gente que queria ser diferente…
E que sente isso com mais força neste tempo do Natal que nos fala de sonhos mas também nos faz tropeçar nos nossos limites e na consciência dolorosa do que não somos…

Para todos os que ainda nos sentimos assim,
para todos os que ainda não deixaram que a indiferença se apoderasse totalmente do seu coração, o Natal é a Boa Nova de que “o que é impossível aos homens”, apesar de sonhado e profundamente desejado, “é possível a Deus”.
A atestá-lo aí está este Menino que nos foi dado e que, se nós quisermos e deixarmos, pode fazer acontecer o milagre de mudar totalmente o nosso coração…

E os novos céus e a nova terra começarão a ser já para nós uma realidade bem presente, ainda que de forma escondida, neste mundo que parece continuar na mesma, apesar do Natal…
Para quem vive o Natal, o mundo passa a ser diferente.
Mesmo que não o veja.
E é por isso que há sempre uma porta aberta à alegria e à esperança, por mais negros que sejam os horizontes do ambiente em que vivemos mergulhados!...

Pe Luís Alberto

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal ou a libertação dos contrastes…

Mesmo para a maioria daqueles que não têm fé, o Natal permanece uma referência cultural onde estão presentes valores como a amizade, a família, a harmonia, a solidariedade…
O Natal tem este condão de acordar sempre o que há de melhor em nós.
Mas para muitos este é um despertar doloroso…
Porque nos obriga ao confronto com a nossa pobreza e limitação, o confronto com a realidade e a distância que a separa do mundo sonhado na intimidade do coração…
O Natal é talvez a época do ano em que mais dói esta distância que nos separa da Vida com que o nosso coração sonha: é o tempo em que dói mais a solidão, o tempo em que sentimos mais a falta daqueles que eram importantes para nós e de quem nos afastámos ou que o ritmo imparável da vida nos roubou…
Alegria e tristeza andam de mãos dadas, até na intensidade com que humanamente se vivem…
As crianças, por terem menos história e talvez também uma memória menos vincada, ficam mais presas às luzes e à alegria do Natal (embora muitas delas, por contágio de vidas adultas mal resolvidas, sofram também os efeitos de ares tristes que respiram…)
Os adultos são talvez mais sensíveis ao sofrimento.
São muitos aqueles que eu já encontrei e que me dizem que o Natal é a época pior do ano, aquela época em que sentem mais o contraste da alegria exterior com a tristeza que os invade, aquela época em que as dores mais vêm ao de cima e lhes custa mais suportá-las…
Pois é.
Se o Natal ficar reduzido à festa exterior das prendas e das músicas que não nos largam, por onde quer que vamos, depressa mergulhamos no vazio.
E o vazio dói.
O Natal só pode ser fonte de verdadeira alegria para quem fizer dele a festa de anos de Alguém que está connosco, que é a nossa maior alegria, que resolve as nossas dores e nos abre horizontes novos de vida.
Sem Jesus, o Natal transforma-se inevitavelmente numa caricatura que só pode mesmo fazer doer!
Com Ele tudo se torna leve e fácil de levar.
Mesmo a pior das dores.
Porque com Ele tudo é relativizado (o que não é sinónimo de desvalorizado…)
O único absoluto é Ele, Caminho, Verdade e Vida!...

Pe. Luís Alberto

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Prendas ou prenda?

Há dias, a propósito do Natal, ouvi alguém desabafar o misto de stress e irritação que vivia normalmente nesta altura do ano por causa das prendas…
Não, obviamente, por não gostar de dar prendas.
A razão era outra.
É que a preocupação com as prendas e o tempo dispendido era tanto que, inevitavelmente, se sentia a deixar de lado o mais importante: a atenção Àquele que é a razão primeira desta festa e, por isso, devia ser também o seu centro – o Menino Jesus.
A irritação, sobretudo consigo próprio enraizava-se no facto de se sentir impotente para mudar as coisas e sentir por isso que se repetia na sua vida o mesmo drama do primeiro Natal, quando o Menino acaba por nascer numa gruta por não haver lugar para Ele na cidade dos homens, neste caso, a vida de cada um de nós…
Não lhe disse nada, mas apeteceu-me dizer-lhe que ainda estava muito a tempo de fazer daquela irritação algo de positivo para este Natal.
Bastava um pequeno esforço para substituir aquela irritação por uma prenda oferecida a Jesus: mais cinco minutos de oração diária do que aquela que habitualmente fazemos; ou um pequeno gesto de renúncia traduzido depois em oferta monetária dada a uma instituição que cuide dos mais necessitados; ou a visita a doentes ou a pessoas que vivem sozinhas e que às vezes não visitamos, apesar de as conhecermos, pelo desconforto que a situação nos gera…
Pode ser tanta outra coisa que o amor não tem dificuldade nenhuma em descobrir!...
Basta pensar em Jesus, nos muitos rostos com que Ele hoje se nos apresenta, e deixar o coração falar!

Padre Luís Alberto

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Apurar o olhar…

Aqui há dias estava a falar na net com uma amiga que me contava o muito que tinha para fazer e se lamentava de não ter tempo para tanta coisa que ela achava importante.
A dada altura, disse-lhe que não se esquecesse de pôr gasolina. Ela respondeu-me, naturalmente surpreendida: “Porquê? Vai aumentar outra vez?”
Expliquei-me melhor e disse-lhe que a gasolina de Deus nunca aumentava. Pelo contrário: era completamente gratuita. De facto, a única condição que Deus põe para no-la dar é que habite em nós o desejo de a receber…

Lembrei-me deste episódio por causa de João Baptista e do que ele nos vai dizer este fim-de-semana: “No meio de vós está Alguém que não conheceis!”…
A correria em que todos estamos instalados tem sempre como motivação implícita o desejo de ir mais longe, de termos mais, mas sobretudo de sermos mais.
Só que há sempre o risco de, no meio das pressas, trocarmos o essencial pelo acessório e deixarmos cair aquilo que verdadeiramente importa: a alegria que vem de Deus e só Ele pode dar…

Não há nada mais triste do que darmo-nos conta de que andamos todos apressados a correr atrás da vida que parece escapar-se-nos sempre entre os dedos, ao mesmo tempo que a ignoramos, incapazes de a perceber sempre connosco, ao nosso lado, bem presente no meio de nós.
Falta-nos, muitas vezes a capacidade de a conhecer…
E, quase sempre, a sensibilidade para a reconhecer…
Este Advento, com o seu convite à alegria, é seguramente um desafio a reconhecer a presença de Deus nas pequenas grandes coisas que preenchem o nosso dia-a-dia!...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

procurai e achareis

Estes últimos dias, invernosos, roubaram-me o sol…
Mas eu sei que ele continua lá.
Eu é que não o vejo…
É, por assim dizer, uma certeza científica.
Confirmada pela sucessão dos dias e das noites, pois sei que a claridade que todas as manhãs me invade tem nele a sua fonte, apesar de continuar a não o ver…

A minha vida está cheia de certezas destas, pois tudo o que tem a ver com a natureza, é por definição, repetitivo…
Mas está também cheia de outras certezas que se prendem com os laços que vou criando com os outros e que geram a confiança…
A maior parte das coisas que preenchem a minha vida assentam no pressuposto de que, à partida, posso contar com os outros. Mesmo sabendo que, como eu, todos falham…
E é por isso que essa confiança nunca é um absoluto.

Só o é no caso de Deus.
Ele é para mim Aquele que não falha,
Ele é Aquele que está sempre presente mesmo quando não o vejo nem o sinto.
Ele é Aquele que me diz “procurai e achareis, pedi e dar-se-vos-á, batei e abrir-se-vos-á”, e que nunca falta ao prometido, mesmo quando me parece que tarda em responder…

Ser cristão é viver desta certeza, desta confiança, e da esperança que ela faz nascer em nós…
É escolher viver a partir da certeza deste Amor de Deus por mim e não viver fundado no que vejo, no que entendo, no que sinto…
É viver na expectativa cada vez mais intensa de que Ele venha, para O poder ver face a face…
Dizer as razões desta esperança é, por isso, ser capaz de identificar na minha vida os sinais da presença deste Deus que é Amor e não descansa enquanto não nos tiver a todos a partilhar da alegria única de estar com Ele!

Pe Luís Alberto